Um dos saberes indispensáveis que o educador deve
incorporar, desde o princípio de sua própria formação, assumindo-se também como
sujeito, é a noção de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para a sua produção ou construção.
Se na experiência de minha própria formação como professor,
que deve ser permanente, eu começo por aceitar que o formador é o sujeito em
relação a quem eu me considero o objeto,
que o meu professor é o sujeito que me forma, e eu, aluno, o
objeto por ele formado,
quando eu me formar professor, eu acabo me tornando um falso
sujeito ao reproduzir aquela relação sujeito-objeto com meus próprios alunos.
Mas é preciso que, pelo contrário, desde o começo de minha própria
formação, vá ficando cada vez mais claro que, ainda que diferentes entre si,
professores ensinam e aprendem com os alunos; e alunos aprendem e ensinam com
os professores.
É claro que o professor conhece o objeto de estudo melhor do
que os alunos quando o curso começa, mas ele reaprende através dos processos de
reestudá-lo e discuti-lo nas aulas, revisar e corrigir os trabalhos dos alunos
e incorporar as novas referências que eles trazem.
É nesse sentido que ensinar não é transferir informação de
modo unilateral, encher a cabeça dos alunos de conteúdos, como se eles fossem
uma vasilha.
Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus
sujeitos, apesar das diferenças, não se reduzem à condição de objetos um do
outro.
Esse princípio parte do ponto de vista de uma educação não
autoritária, mais democrática e que entende o valor pedagógico do diálogo. E
parte também daquela compreensão dos conhecimentos como processos históricos,
inacabados e em permanente transformação.
Ensinar-aprender é uma relação humana que exige a
participação de professor e alunos como sujeitos desse processo.
Historicamente, antes das escolas, as pessoas aprendiam
socialmente. E foi aprendendo no próprio cotidiano que ao longo dos tempos
mulheres e homens perceberam que era possível e, depois, que era preciso trabalhar maneiras, caminhos
e métodos de ensinar.
Aprender veio antes de ensinar. Ou melhor, ensinar se diluía
na experiência primeira de aprender.
Por isso Paulo Freire argumenta que aquilo que não foi
apreendido não pode ser realmente aprendido. Só há validade no ensino em que o
aluno se torna capaz de recriar o que aprendeu
E por isso, o processo de aprender, que historicamente esteve
interligado com os vários atos de ensinar, é um processo que atinge um campo
promissor quando é capaz de deflagrar uma curiosidade crescente para tornar o
aprendiz mais e mais crítico, autocrítico e criador.
O ponto alto é o que Freire chama de curiosidade
epistemológica, que é aquela curiosidade que se torna rigorosa e sustentada por
um método de pesquisa.
E daí vem a sua crítica ao que ele chama de “educação
bancária”, aquela onde o professor trabalha para encher os alunos de conteúdo,
fazendo com que a formação se restrinja aos atos de depositar informações e
exigir que eles guardem na cabeça.
Paulo Freire diz que modelo deforma tanto a criatividade do
professor quanto a dos alunos.
Agora, devido à beleza e à força da aprendizagem, alguns
alunos ainda conseguem se rebelar e superar o erro da educação bancária.
Para Paulo Freire, é precisamente o gosto da rebeldia e a chama
da curiosidade que, de certa forma, “imunizam” o estudante contra aquele modelo
que o induz à passividade.
Neste caso, é a força criadora do aprender de que
fazem parte a comparação, a repetição, a constatação, a dúvida rebelde, a
curiosidade não facilmente satisfeita, que supera os efeitos negativos do falso
ensinar.
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