segunda-feira, 13 de julho de 2015

Pedagogia da Autonomia - Ensinar exige estética e ética



A necessária superação da ingenuidade e a conquista da criticidade devem ser necessariamente realizadas ao lado de uma rigorosa formação ética. Não é humanista uma formação que promove sujeitos críticos, porém, cínicos. 

E ao lado da ética, Paulo Freire, argumenta que a educação não pode deixar de lado o caráter estético do aprendizado. Nas suas palavras, é a decência e a boniteza de mãos dadas.


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Paulo Freire defende que a prática educativa deve ser um testemunho rigoroso de decência e pureza – lembrando que a gente não deve confundir o conceito de pureza com puritanismo, entre aquele empenhado para cultivar os valores da sinceridade, da integridade e da honestidade; e aquele outro que prefere dedicar a sua vida para apontar defeitos nos outros.

E além disso, a rigidez moralista do puritanismo não oferece a oportunidade para o sujeito exercitar a sua relação ética com o mundo. Porque uma coisa é deixar de fazer o mal porque é proibido; outra coisa é escolher fazer o bem, mesmo sabendo que é possível fazer o mal.

Mulheres e homens, seres históricos, culturais e sociais, só podemos nos tornar éticos quando temos a liberdade de aprender, de comparar, de escolher, de decidir, de aceitar ou de recusar.

E essa liberdade de escolher é essencial porque, mais uma vez, seres humanos não estão prontos, acabados. A condição humana ainda é um processo. Ninguém tem a resposta definitiva para nada, porque os conhecimentos ainda estão sendo contruídos e a humanidade ainda está aprendendo sobre si mesma.

Por isso que petrificar os saberes e impedir a liberdade de pensamento é uma ação desumanizadora, no sentido que interrompe o movimento de nossa compreensão sobre as transformações que ocorrem permanentemente na humanidade.

Justamente porque a liberdade é uma condição indispensável para a educação, essa liberdade não pode jamais estar dissociada da ética.

“E é por isso que transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador.”

Formador nesse sentido amplo de uma humanidade que ainda está aprendendo a se descobrir, que ainda está inventando o mundo.

O ensino dos conteúdos não pode estar dissociado dessa formação humana, que para Paulo Freire inclui a formação moral e a formação ética dos alunos.

E é por isso também que sacralizar determinados saberes e demonizar outros é uma forma altamente negativa e perigosa de pensar errado. De testemunhar um maniqueísmo aos alunos, como se o professor e a escola fossem o guardiões da verdade.

Pensar certo exige profundidade, exige a compreensão de que a realidade é complexa e que todas as ideias comportam também as suas próprias contradições.

Pensar certo exige que professores e estudantes estejam disponíveis para revisar os próprios conceitos e reconhecer não apenas a possibilidade de mudar de ideia, mas o direito de fazê-lo.

Agora, é claro que não há como pensar certo sem ética. Se mudar de ideia é uma possibilidade e um direito, cabe a quem muda assumir a mudança.

Do ponto de vista da ética, não é possível mudar e fazer de conta que não mudou. Todo pensar certo é radicalmente coerente.

E em termos estéticos, a gente não pode deixar de considerar os aspectos subjetivos na relação entre professores e alunos. A própria ruptura criativa da educação passiva para uma formação crítica exige que todos exercitem novas percepções sobre o mundo.

O professor precisa conhecer os recursos expressivos para estimular a atenção crítica dos alunos e criar um ambiente favorável para o florescimento da curiosidade.

A própria variedade das expressões vocais do professor, afirmações, perguntas, pausas retóricas, humores, e também as expressões faciais e corporais são recursos estéticos indispensáveis para a aprendizagem.

A desatenção dos alunos ou mesmo a apatia e muitas vezes a indisciplina estão frequentemente relacionadas a uma autossabotagem do professor que, às vezes sem perceber, demonstra para os alunos, através de sua expressão facial, a sua antipatia, a sua descrença ou mesmo o seu esgotamento diante da turma.

A linguagem não-verbal diz muito daquilo que a palavra tenta esconder.

Por isso, não deveria ser surpreendente observar a resistência e às vezes a agressividade dos alunos contra um sujeito que fala de educação, mas que visivelmente expressa no rosto uma antipatia hostil a eles.

Por isso, é indispensável que as palavras sejam incorporadas no próprio exemplo do professor.