A necessária superação da ingenuidade e a conquista da
criticidade devem ser necessariamente realizadas ao lado de uma rigorosa
formação ética. Não é humanista uma formação que promove sujeitos críticos,
porém, cínicos.
E ao lado da ética, Paulo Freire, argumenta que a educação não pode deixar de lado o caráter estético do aprendizado. Nas suas palavras, é a decência e a boniteza de mãos dadas.
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Paulo Freire defende que a prática educativa deve ser um
testemunho rigoroso de decência e pureza – lembrando que a gente não deve
confundir o conceito de pureza com puritanismo, entre aquele empenhado para
cultivar os valores da sinceridade, da integridade e da honestidade; e aquele
outro que prefere dedicar a sua vida para apontar defeitos nos outros.
E além disso, a rigidez moralista do puritanismo não oferece
a oportunidade para o sujeito exercitar a sua relação ética com o mundo. Porque
uma coisa é deixar de fazer o mal porque é proibido; outra coisa é escolher
fazer o bem, mesmo sabendo que é possível fazer o mal.
Mulheres e homens, seres históricos, culturais e sociais, só
podemos nos tornar éticos quando temos a liberdade de aprender, de comparar, de
escolher, de decidir, de aceitar ou de recusar.
E essa liberdade de escolher é essencial porque, mais uma
vez, seres humanos não estão prontos, acabados. A condição humana ainda é um
processo. Ninguém tem a resposta definitiva para nada, porque os conhecimentos
ainda estão sendo contruídos e a humanidade ainda está aprendendo sobre si
mesma.
Por isso que petrificar os saberes e impedir a liberdade de
pensamento é uma ação desumanizadora, no sentido que interrompe o movimento de
nossa compreensão sobre as transformações que ocorrem permanentemente na humanidade.
Justamente porque a liberdade é uma condição indispensável
para a educação, essa liberdade não pode jamais estar dissociada da ética.
“E é por isso que transformar a experiência educativa em
puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no
exercício educativo: o seu caráter formador.”
Formador nesse sentido amplo de uma humanidade que ainda
está aprendendo a se descobrir, que ainda está inventando o mundo.
O ensino dos conteúdos não pode estar dissociado dessa
formação humana, que para Paulo Freire inclui a formação moral e a formação
ética dos alunos.
E é por isso também que sacralizar determinados saberes e
demonizar outros é uma forma altamente negativa e perigosa de pensar errado. De
testemunhar um maniqueísmo aos alunos, como se o professor e a escola fossem o guardiões
da verdade.
Pensar certo exige profundidade, exige a compreensão de que a
realidade é complexa e que todas as ideias comportam também as suas próprias
contradições.
Pensar certo exige que professores e estudantes estejam
disponíveis para revisar os próprios conceitos e reconhecer não apenas a possibilidade
de mudar de ideia, mas o direito de fazê-lo.
Agora, é claro que não há como pensar certo sem ética. Se
mudar de ideia é uma possibilidade e um direito, cabe a quem muda assumir a
mudança.
Do ponto de vista da ética, não é possível mudar e fazer de
conta que não mudou. Todo pensar certo é radicalmente coerente.
E em termos estéticos, a gente não pode deixar de considerar
os aspectos subjetivos na relação entre professores e alunos. A própria ruptura
criativa da educação passiva para uma formação crítica exige que todos exercitem
novas percepções sobre o mundo.
O professor precisa conhecer os recursos expressivos para
estimular a atenção crítica dos alunos e criar um ambiente favorável para o
florescimento da curiosidade.
A própria variedade das expressões vocais do professor,
afirmações, perguntas, pausas retóricas, humores, e também as expressões
faciais e corporais são recursos estéticos indispensáveis para a aprendizagem.
A desatenção dos alunos ou mesmo a apatia e muitas vezes a
indisciplina estão frequentemente relacionadas a uma autossabotagem do
professor que, às vezes sem perceber, demonstra para os alunos, através de sua
expressão facial, a sua antipatia, a sua descrença ou mesmo o seu esgotamento
diante da turma.
A linguagem não-verbal diz muito daquilo que a palavra tenta
esconder.
Por isso, não deveria ser surpreendente observar a
resistência e às vezes a agressividade dos alunos contra um sujeito que fala de
educação, mas que visivelmente expressa no rosto uma antipatia hostil a eles.
Por isso, é indispensável que as palavras sejam incorporadas
no próprio exemplo do professor.