terça-feira, 21 de julho de 2015

Pedagogia da autonomia - Ensinar exige exemplo



Ensinar exige exemplo


Não se cria um ambiente de aprendizagem verdadeiro quando o professor é daqueles que diz: “faça o que digo, mas não faça o que eu faço.” Ou pior: “faça o que eu mando, mas não o que eu faço”.

O educador consciente sabe perfeitamente bem que quando as suas palavras não são correspondidas pelo seu exemplo, os alunos percebem e passam a desconfiar do que ele ensina. Porque tudo o que ele diz fica simplesmente desacreditado.

Não é possível educar quando todo aquele discurso bonito, em vez de fundamentar a ação, procura maquiar e esconder a prática. Como diz Paulo Freire, pensar certo é fazer certo.


Alunos percebem com muita clareza quando o professor é incoerente, contraditório ou quando simplesmente não acredita muito naquilo que ele mesmo diz.

Eles percebem quando o professor não está muito convicto do sentido de cobrar a memorização de determinado conteúdo da disciplina.

Eles notam quando o professor está cansado e passa a reproduzir mecanicamente uma explicação que está no livro didático, sem se importar se a turma está compreendendo ou não.

Sabe aquela história do professor que finge que ensina e os alunos fingem que aprendem?


Eles percebem também quando um professor diz que é justo e democrático, mas impõe o seu poder de forma arbitrária e autoritária.

O que podem pensar alunos sérios, questiona Paulo Freire, de um professor que no semestre passado explicava a importância das lutas pela autonomia das classes populares, e que hoje ridiculariza e estigmatiza essas mesmas lutas na sociedade contemporânea, mesmo dizendo que é um professor progressista?

O que eles podem pensar de uma professora, que às vezes até se diz de esquerda, que ontem explicava a importância das mobilizações da classe trabalhadora, e que hoje, instrui os alunos a se conformar com as regras do mercado, a se resignar com seu papel de mão-de-obra subalterna e a aceitar aquele treinamento técnico que vai torná-lo um trabalhador restrito e submisso?

Não há como ensinar se o seu próprio exemplo não é uma confirmação viva do que você ensina. Quando a prática do professor contradiz o seu discurso, não se cria aquele vínculo de confiança e de credibilidade indispensável para a aprendizagem.

Não é possível ser um professor crítico e democrático se diante o questionamento dos alunos o professor encerra a discussão dizendo: sabe com quem está falando?


A atmosfera de aprendizagem exige uma relação de confiança para que todos se sintam confortáveis e encorajados para exercitar a sua argumentação. O professor precisa criar um ambiente em que as discordâncias entre os oponentes apareçam sem que eles confundam antagonismo com agressividade.

O próprio Paulo Freire é vítima dessa raiva desmedida de pessoas que, talvez por terem sofrido uma educação autoritária, não aprenderam a expressar a sua discordância com naturalidade, não tiveram a oportunidade de exercitar a argumentação no campo das ideias.

E por terem sido assim, mal educadas, não conseguem distinguir uma crítica de uma ofensa. Confundem antagonista com inimigo. Tem ódio de quem interpreta diferente. Acha que todos aqueles que não concordam com ele estão errados.

O professor precisa dar o exemplo para que a turma se sinta à vontade para discordar, para expor seus argumentos e para admitir a possibilidade e o direito de mudar de ideia, sem que ninguém se sinta menosprezado, humilhado ou tenha raiva um do outro.

Alunos devem ser na verdade encorajados a pensar fora da caixa e experimentar. E se errar, aprender com o erro. Sem drama, sem medo. Porque para construir conhecimento, para pesquisar e para inovar é indispensável aprender a lidar com o risco.

A série Pedagogia da Autonomia apresenta didaticamente cada um dos capítulos e subcapítulos do livro de Paulo Freire. Para acompanhar os vídeos, inscreva-se no meu canal no YouTube ou favorite o meu blog no Brasil Post para receber as notificações.

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